sexta-feira, 28 de março de 2014

Prazer!

Meu nome é Raquel e eu sou de Minas Gerais. Me considero do estado mesmo, nasci em Belo Horizonte mas nunca tive nenhum sentimento de pertença do lugar. Até que agora um pouquinho mais velha gosto de lá, e vejo que tenho muito do espírito da cidade... Aquela coisa super urbana, sabe? Mas até os 18 anos tudo o que queria era sair de BH, pra qualquer interior, ou melhor, pra cidade do meu pai: Grão Mogol. É interessante que toda vez que eu penso em mim e na minha mini-história de vida, vejo minhas raízes ali. Nessa revolta toda contra a cidade, no cheiro da estrada e de diesel, em ficar na rua por ficar na rua no interior. Eu sempre tiver que lidar com a estrada. Sempre tive que lidar com a saudade. Até hoje minhas amigas mais sólidas estão lá. Eu sinto saudades todos os dias, desde que eu me lembro por gente, desde os 4 anos.

Acho mesmo que tudo isso contribuiu pro que eu sou hoje. Hoje eu sou estudante de relações internaiconais, e moro em Lisboa, aqui em Portugal. Por um período de tempo imprevisível. 

No Brasil, depois de muita revoltinha adolescente, morei em Montes Claros e em Ouro Preto. Foi meu primeiro contato com a vida sozinha, e eu me senti única no mundo. Foi dolorido, mas foi tanto aprendizado, foi tão intenso e olhando agora, nostálgico. Isso foi ontem mesmo, tem só 4/5 anos. Depois, fiz um intercâmbio (primeira viagem internacional!) pra África do Sul... um mêsinho, me encantei. Da próxima decidi que ficaria mais. Fui ver “Cartas para Julieta” e pronto. Me apaixonei pela Itália, e fui. Nessa época já fazia relações internacionais, e eu que me achava muito experiente por ter feito 6 anos de inglês+intercâmbio me deparei com uma turma de colegas que tinham família na diplomacia, que viajavam à Paris e à Rússia e que falavam 3 línguas (ou pelo menos diziam que eram fluentes). Foram 6 meses intensos, lindos, não posso reclamar de nada. Na metade do intercâmbio, aos 3 meses, percebi um dia que tinha saudades de casa. Mas não o suficiente pra voltar. Eu queria juntar os dois países. O skype tornou-se mais recorrente que água na minha vida, inclusive, o vinho também. Aprendi a cozinhar (bem!) e aprendi que se eu não levantasse de manhã, ninguém insistiria. Foi também com esses 18 aninhos que aprendi uma das coisas mais chocantes: eu precisava de papel pra sair do meu país. Papéis. E cada um assinalado com mil carimbos, de vários órgãos burocráticos, fotos, assinaturas, permissões. Eu nunca imaginei que ser livre fosse tão custoso! Para ser livre temos que ser inteligentes e ricos. Liberdade nesse mundo burocrático e capitalista, não é democrática! Em outro post eu conto melhor o que aconteceu de tão traumático, o ponto é: foi ali que eu me percebi como uma integrante desse sistema. Que eu não estava ali sozinha, e que todos estamos devidamos catalogados e sendo observados. Confusões à parte, eu era uma estudante da língua, com dinheiro suficiente pra ficar por ali. E de alguma forma, tudo se resolveu. Conheci meu namorado, vivi numa casa com amigos-irmãos de 14 nacionalidades diferentes. Aprendi tanta coisa que me reformulei, já não era mais a mesma. E BH já não me satisfazia desde antes, imagina agora! Voltei, pesquisei, pesquisei, fui pra Espanha, procurar faculdade e fazer um curso preparativo para uma prova de proficiência da língua. Consegui passar na prova, mas não consegui a faculdade. Mas também, desde o primeiro dia, eu não me sentia em casa em Barcelona. Fui à Irlanda, vim à Lisboa, consegui faculdade nas duas. Escolhi pela mais ensolarada, Lisboa. No início foi difícil. É engraçado que as pessoas sempre acham que o fato da língua ser a “mesma” tornou tudo mais fácil, quando pra mim foi exatamente o contrário. Explico: quando as pessoas falam a mesma língua, você espera o mesmo comportamento. E esse não era o caso. Portugal é primeiro muito diferente do Brasil, e depois, à segunda vista, muito parecido. Depois de dois anos, amo, amo de paixão aqui, gostaria de ficar, mas sou pouco esperançosa em tempos de crise. Me adaptei, de novo.

Acredito que a vida de todos os expatriados é assim... entramos em contato com uma forma animal e super-humana: como camaleões. Nos adaptamos de dentro pra fora, os sentimentos, a mentalidade, os hábitos.
Eu estudo para e meu sonho é trabalhar com imigração. Difícil! Mas considero esse espaço meu primeiro passo.

Bem vindo!

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