quinta-feira, 19 de junho de 2014

Troca troca

Tem tanto tempo que eu estou planejando mil e um posts e não escrevo porque me irrita não saber mexer direito nas configurações aqui! Mas pouco a pouco vou aprendendo, e o mais importante é escrever. 
Pois bem, não seria bom se existisse um país que juntasse o melhor de todos os países? A comida do Brasil, a organização da Noruega, a alegria mexicana, os corpos sarados argentinos, as praias da Indonésia, música africana e por ai vai... Todo mundo ia migrar pra lá! 
Mas enquanto isso não existe, me contentei em comparar aquilo que até hoje, passado o período de admiração e de indignação próprios do estrangeiro, sinto diferença entre Brasil e Portugal. Aquilo que eu queria que existisse aqui e aquilo que eu queria que existisse aí. A gente acostumar fácil com o que é melhor né? então... 
Aquilo que eu já me acostumei aqui e acho que seria válido no Brasil: 

-Segurança: é incrível como passa tão longe da minha cabeça caminhar com medo aqui. Tomar um ônibus pra voltar pra casa de madrugada. Andar vestida como eu quiser na rua. Não ficar preocupada se as pessoas que eu conheço estão bem, se chegaram em casa ok. Meu quarto, com janela pra rua, facinho de entrar se alguém vier com mas intenções... Eu sei que Portugal também não é um país modelão tipo a Finlândia, mas as preocupações são muito muito menores do que no Brasil. Tem pickpocket sim, mas violência, risco real, armado.. muito difícil. 

-Transito: 20 minutos pra chegar na faculdade. 5 no curso de alemão. 10 no centro. Não existe transito louco, exaustivo que tem no Brasil. Eu acho que aquilo mata uma pessoa aos poucos, aquela rotina toda de passar 2, 3, 4 horas no trânsito, solzão na cabeça, milhões de outros carros, todos estressados, apressados, atrasados... Meu Deus! Aqui eu vou e volta numa calmaria, numa beleza... Transporte funciona bem (repito: sei que não é o maior exemplo, mas é muito bom!), e pasmem: mais barato que no Brasil! Dá até vergonha né?  

-Fofoca 0: eu não sei se é porque eu vivo viajando e não faço realmente parte de um grupo, um bairro ou uma comunidade aqui, mas eu não vejo aquela fofoca perversa que existe no brasil. Aquelas velhinhas de língua chicote que passam e repassam a história até um ponto que você não se reconhece nela... Não! Acho que não existe... Ou pelo menos, não nessa intensidade toda!  

-Vestir: gente, fico boba quando vejo as fotos do Brasil! Não me levem a mal, eu sou bem vaidosa e acho bonito se arrumar e tudo, mas não entendo como alguém passa batom e põe salto pra ir na padaria. Vejo as fotos das minhas amigas e aquilo tá tão distante da minha realidade, as meninas todas super produzidas, renda pra ir na faculdade, paetês pra irem na casa da avó... E quando é casamento/formatura então? A gente se arruma pra um Oscar! É bonito sim, mas muitas vezes é quase brega! Aqui fui em uma formatura, já sabia que não ia ser chique, comprei um vestidinho esvoaçante na zara e achei que estava simples. Cheguei lá, estava todo mundo de all star, terninho.. Até casamentos, o pessoal se arruma em casa mesmo, isso de ter maquiadora e etc é pra ocasiões muitos chics e muito ricas! Resumindo: adoro isso aqui, é uma moda mais leve, bonita também, mas menos maquiagem, menos chapinha, menos salto alto... Mais natural!  

-Natureza: aprendi a celebrar o sol! A ver beleza na chuva, na neve, as folhas caídas do outono... A ir na praia e me acabar no mar, nadar como se fosse a primeira vez! Admirar o calor na pele, a areia nos pés, o cheiro de bosque... Acho que porque aqui as estações são muito demarcadas, e no Brasil temos um solzão o ano todo, nem vemos como somos sortudos!  

Agora as coisas que eu não consigo me acostumar, e acho que eles deviam aprender conosco, um pouquinho pelo menos:  

-Pontualidade: não, não estou falando da pontualidade necessária pra o andamento das coisas, no trabalho, na rotina. Estou falando do excesso dela na vida pessoal! Gente quem reclama de não sermos pontuais no Brasil não sabe como é chato se preocupar com o relógio cada minuto de todos os dias da vida! Eu vejo que muitos europeus ficam presos no relógio, o que resulta, ao contrário, em nem ver o tempo passar! Uma vez fui a um show aqui. Todo mundo sabe que shows começam pelo menos 1 hora depois da abertura dos portões. Eu não tinha ingresso e por isso fui mais cedo para poder comprar na portaria. Tinha simplesmente uma fila indiana milimetricamente organizada para a abertura dos portões meia hora antes do previsto. Ãn? Sexta feira a noite, será que ninguém ali tinha nada melhor pra fazer, visto que era uma festa pequena, nada que justificasse ficar ali, todos tinham ingresso. Cervejinha com os amigos? Hora marcada. Ir visitar alguém? Hora marcada. Resumindo, uma perca de tempo danada em função exatamente de marcar um tempo pra tudo. 

-Delivery/24 horas: inexistente. O que tem são geralmente uns árabes ou indianos ou nepaleses que ficam abertos e salvam a nação, mas fora isso.... Mc Donalds até as 4 da manha, e todo o resto fecha no máximo meia noite. E delivery é uma coisa de outro mundo! Existem umas empresas de motoboys especializadas que cobram uns 4 euros pra trazer a comida dos restaurantes pra você, mas é uma chatice danada, nada fácil como no Brasil: ligou, chegou. 

-Tirar sapato: tem que tirar sapato nas casas todas! Isso nem é tão sério, só é engraçado, mas eu sempre esqueço. Acho que nunca vou conseguir me acostumar.  

-Frieza: eu deixei esse por último porque é muito difícil de explicar! Não, não é aquela frieza que todo mundo fala no Brasil, que te choca e causa um terror na sua vida. Qualquer adulto pelo menos sabe se virar com um pouco dela. Tem hora que eu até acho bom, porque aqui não existe muito isso de  vizinho ou parente distante se achar na liberdade de ficar dando palpite na sua vida. É uma coisa que vai acontecendo com o tempo... Você percebe que tem meses que não abraça alguém, que ninguém aparece na sua casa numa tarde de semana, que as pessoas têm um limite de assuntos pra conversar... Que faz muito muito tempo que você não vê um sorriso de um desconhecido! Ô eu sinto uma falta disso aqui! De bater o olhar com qualquer um sabe, numa sala de espera, numa fila, no ônibus, e a pessoa sorrir pra você. Sinto falta de poder brincar com as crianças.. aqui olham desconfiados: será pedófilo? De poder ligar pro professor pra tirar uma dúvida e depois chamar pra cerveijada. De mais barulho em lugares públicos, e mais palavras sinceras, e mais confiança entre as pessoas. É um ponto que só quem vem entende! É um frio que igual as estações deles, desaparece no verão, mas ao longo dos anos vai te lapidando e deixando mais quieto e calado. Não é que vão virar a cara pra você, pelo contrário, provavelmente mais pessoas vão te dar atenção aqui, mas é uma atenção pré-fabricada, um sorriso froxo, uma palavra ensaiada e tchau! No Brasil talvez menos gente conversa com você, mas esses poucos conversam de um jeito mais ativo, mais interessado mesmo, pro bem ou pro mal, pra elogiar ou pra criticar.. Mas é sincero e caloroso! A gente sente a presença, o contato humano diariamente! 

Enfim.. é isso. Semana que vem vou fazer meu cartão português de seguro saúde e conto o passo-a-passo! Fica menos tedioso fazer essas coisas sabendo que vou registrá-las depois. Vai que serve pra alguém né? :) 

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